terça-feira, novembro 23, 2021

Sugestões de Leitura para esta semana

 

Lenda da vela de Natal

Lenda antiga de origem austríaca

 

 Contos de Natal: Vela de Natal

Era uma vez, um sapateiro pobre que vivia em uma cabana, perto de uma humilde aldeia. Como gostava de ajudar os viajantes que passavam junto à sua casa durante a noite, o sapateiro deixava uma vela acesa todas as noites na janela da casa, para lhes iluminar o caminho.

Certa altura, deu-se uma grande guerra que fez com que todos os jovens partissem, deixando a aldeia ainda mais pobre e triste. Ao verem a persistência daquele pobre sapateiro, que continuava a viver a sua vida cheio de esperança e bondade, as pessoas da aldeia decidiram imitá-lo. E, na noite de véspera de Natal, todos acenderam uma vela nas suas casas. Iluminando, assim, toda a aldeia.

À meia-noite, os sinos da igreja começaram a tocar, anunciando a boa notícia: a guerra tinha acabado e os jovens regressavam às suas casas! Todos gritaram: “É um milagre! É o milagre das velas!”. A partir daquele dia, acender uma vela na véspera de Natal tornou-se tradição em quase todas as casas.

 

 

 Contos de Natal

 Contos de Natal, 25 clássicos para ler às crianças

Dia de Natal

Um poema de Natal de Fernando Pessoa

 

Chove. É dia de Natal.

Lá para o Norte é melhor:

Há a neve que faz mal,

E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente

Porque é dia de o ficar.

Chove no Natal presente.

Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse

O Natal da convenção,

Quando o corpo me arrefece

Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra

E o Natal a quem o fez,

Pois se escrevo ainda outra quadra

Fico gelado dos pés.

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Lenda do Pinheiro de Natal

A tradição de enfeitar árvores tem origem em costumes pagãos anteriores ao cristianismo, que durante as festividades ligadas à natureza e à fertilidade da terra elegiam árvore como um símbolo dessa força da natureza

 

Na região transmontana conta-se uma lenda sobre a origem do Pinheiro de Natal.

Diz-se que quando Jesus nasceu as árvores de todo o mundo floresceram e revestiram-se de flores nesse dia. Todas, exceto o pinheiro. Sendo o pinheiro uma árvore que não produz flores, tudo o que lhe nasceu foram pinhas, e apesar de ter muito orgulho nelas, ele viu que, ao lado das outras árvores, tinha um aspeto muito humilde. Por isso entristeceu-se e envergonhou-se por não conseguir homenagear o nascimento do menino Jesus com a mesma beleza das outras árvores.

Ouvindo o seu lamento, os anjos apiedaram-se da sua condição e decidiram ajudá-lo. Do céu colheram estrelas e com elas foram-lhe enfeitar os ramos. O pinheiro ficou radiante e brilhou com tanta luz que gente de muito longe avistou o pinheiro iluminado no meio da serra e veio ver o que era aquilo.

E a todos os que chegavam o pinheirinho dizia:

— Alegrem-se! Hoje nasceu o Salvador do Mundo!

A partir desse dia o pinheiro passou a ser celebrado como a árvore que se decora por altura do Natal em comemoração no nascimento do menino Jesus.

Quer saber mais?

A tradição de enfeitar árvores tem origem em costumes pagãos anteriores ao cristianismo, que durante as festividades ligadas à natureza e à fertilidade da terra elegiam árvore como um símbolo dessa força da natureza. Este era um costume presente em muitas culturas do mundo antigo, desde os egípcios aos helénicos (gregos), romanos e sobretudo os celtas.

Com o estabelecimento do cristianismo tal costume passou a ser proibido. Foi só com surgimento dos movimentos protestantes, iniciados pelo alemão Martinho Lutero que a prática de decoração de árvores foi retomada e introduzida nas celebrações de Natal, muito provavelmente como modo de desafio às proibições da igreja católica. Assim nasceu o conceito da árvore de Natal. A adoção de tal prática – hoje em dia indissociável da época natalícia – não foi rápida e encontrou mais resistência nos países em que a igreja católica exercia muita influência.

 Em Portugal, por exemplo, somente no século XIX é que a árvore de Natal passou a ocupar um lugar nos lares durante a época do Natal. A árvore de Natal é, por tradição, uma árvore conífera (pinheiros, cipestres, abetos), não só porque são o tipo mais comum de árvore na Europa mas também porque estão verdes o ano todo, simbolizando por isso a perfeição e a vida. Em Portugal é o pinheiro a árvore de Natal por excelência e indissociável à época.

 

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O Pai Natal

Conto de Natal de Pina de Morais extraído do livro Coletânea de Histórias, Textos, Lendas e Poemas de vários autores clássicos portugueses.

 O Pai Natal de Pina de Morais, conto tradicional português

 

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Entrevista ao Pai Natal

Entrevista ao Pai Natal de António Torrado 

Fomos encontrá-lo a fazer embrulhos e a arrumar sacos e malas no porta-bagagens do trenó. Para meter conversa, visto que o Pai Natal, sujeito muito modesto, não gosta de ser entrevistado, perguntámos-lhe:

– Então, muito trabalho, este ano?

– Nem calcula! É que as meninas e os meninos estão cada vez mais exigentes. Só querem brinquedos caros e volumosos. Ora, eu, francamente, já não tenho forças para carregar com tanta coisa! Tome o peso a esta caixa, faça favor.

Nós pegámos na caixa e concordámos que era pesada.

– É um comboio elétrico inteirinho, com os comandos, carruagens, baterias, central, estações e apeadeiros. Pois multiplique este peso por centenas e centenas. Veja o meu trabalho! E não tenho ninguém que me ajude.

Tivemos pena do Pai Natal.

– Claro que os meninos, depois, queixam-se de que eu não trouxe tudo o que eles pedem… Pois como havia de ser de outra forma? Para chegar a todos – e nem faz ideia quanto me custa nem sempre chegar a todos – tenho de reduzir a encomenda de cada um. O porta-bagagens do trenó não é de elástico e as minhas forças também têm limites.

– Só a sua paciência, Pai Natal, é infinita – dissemos-lhe nós, a ver o que ele respondia.

– Nem sempre, meu amigo, nem sempre! Quando recebo cartas como esta, perco a paciência. Ora leia.

Desdobrou uma folha de papel e deu-nos a ler. A carta era assim:

“Querido Pai Natal:
Queria pedir-lhe uma boneca daquelas grandes, que eu vi, no outro dia, numa montra, quando fui sair com a minha mãe. Queria o enxoval completo da boneca, uma banheira para lhe dar banho, um pente, uma escova e um secador para cabelos de bonecas. Queria também um serviço de chá para bonecas, um triciclo, um jogo e uma lapiseira azul. Para a minha irmã não mande nada, porque ela só sabe estragar-me os brinquedos. Beijinhos da sua amiga
Luísa”

– Leu tudo? Que tal aquele bocadinho em que ela diz para eu não dar nada à irmã? Veja se não é de uma pessoa perder a cabeça!

– Mas não a perca, Pai Natal – dissemos. – A sua cabeça, onde cabem milhões de nomes, moradas e pedidos, é preciosa.

– Nem me fale disso! Já não tenho memória para tanta coisa. Os pedidos são muitos, as listas aumentam de ano para ano…

– Não diga que já trocou encomendas? – perguntámos.

O Pai Natal, com a sua longa experiência, deve ter imensas histórias para contar.

– E que sucede? Os meninos acarinham-no, falam consigo, dão-lhe alguma prenda? – quisemos nós saber.

– Isso sim! Sofro cada desilusão, meu amigo, que é preferível ficarmos por aqui. Talvez para o ano que vem lhe conte mais coisas.

Couberam ao Pai Natal as últimas palavras da entrevista.

Aguardemos um ano e, até lá, vejam se não desiludem o Pai Natal.

 

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O Primeiro Natal em Portugal

O Primeiro Natal em Portugal é Livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 1º ciclo

 O Primeiro Natal em Portugal

 

É véspera de Natal. Mas não para Irina. Para ela só será Natal a 7 de Janeiro, quando as aulas tiverem recomeçado.

A mãe aproveita umas horas extra, na pastelaria, para preparar fornadas de bolos-reis.

O pai, antes de sair, marcou-lhe páginas e páginas de trabalhos de casa. É preciso, para poder acompanhar os colegas, folheando o dicionário, a pequena ucraniana procura as palavras portuguesas que há-de escrever em frente das que tão bem conhece.

ОЛiВЕДЬ — lápis

ЗОШИТ — caderno

КИГА — livro

ШКОЛА — escola

Tudo diferente! Até o abecedário… Na escola, os outros fazem pouco dela e chamam-lhe “língua de trapos”. Que quererá isso dizer? Vai à página 190, logo em seguida à 293. Era de calcular…

Tem, no entanto, orgulho em ser a melhor a matemática. Ninguém a bate em contas. Quando a professora entrega os testes e lhe dá vinte, há sempre um grupinho irritado que, no recreio seguinte, se junta, numa roda, à sua volta, cantarolando:

 rina, Irina, Irina, Que menina tão fina!
Tem cara cor de sal,
Olhos cor de piscina. Cabelos cor de margarina. Ai, doem-te as saudades? Vai tomar aspirina.

Na Ucrânia deixou tantos amigos…

Evita aqueles olhos escuros que se fixam nela, uns curiosos, outros trocistas, outros indiferentes.

Sente-se como uma extraterrestre. Porque é que os pais a mandaram vir?

Isola-se no recreio, a um canto, tentando desvendar a algaraviada das conversas. Às vezes, o Afonso murmura-lhe ao ouvido um segredo:

— Pareces uma fada!

E foge logo a correr.

Que palavrão será “fada”? Nem vale a pena procurar no dicionário. Algumas palavras que lhe dizem nem sequer lá vêm. A princípio ainda perguntou à mulher da limpeza o que significavam mas ela empurrou-a com a esfregona.

— Ordinária! Estes imigrantes mal sabem falar mas fixam logo a porcaria… Porque não voltam para o sítio de onde vieram?

Com lágrimas nos olhos, Irina vai agora à janela e vê as luzinhas acender e apagar nas árvores despidas. Por trás das paredes deslavadas das velhas casas, decerto se celebra a consoada. Como será?

Doze pratos se punham na mesa de festa no Natal da sua terra. Uma em memória de cada apóstolo.

É Natal em Portugal. Que interessa? A família está dispersa. A mãe a fazer bolos-reis que não vai provar porque para os ortodoxos é tempo de sacrifício e jejum. O pai lá anda, na construção civil. Como mais ninguém queria trabalhar na noite de 24, foi, sozinho, pintar um café que está a ser remodelado, ao fundo da rua. Os dois irmãos mais novos ficaram em Priluki, lá longe, com a avó.

Irina aquece a sopa e arranja uma sandes de queijo. Como pesa o silêncio!

De repente, sente um grito abafado no andar de cima. Algum assalto? Alguém que caiu? Não sentiu passos nem o baque de uma queda…

Com o coração a bater, põe-se a espreitar pelo óculo. Nada!

— Acudam! Acudam!

Mais ninguém se encontra no prédio. As lojas do rés-do-chão estão fechadas, os vizinhos do primeiro andar foram de férias. Por cima, na mansarda, mora uma rapariga nova, gorda, pálida.

Irina abalança-se a subir. A porta encontra-se apenas encostada e a miúda entra, a medo. Já ninguém grita. Um gemido fraco ecoa ao fundo do corredor.

Haverá feridos? Tem horror ao sangue. Por um momento, pensa em voltar para trás. Mas prossegue, pé ante pé, até ao quarto.

Deitada na cama, a moça, que ela conhece de vista, geme, agarrada à barriga enorme. Irina aproxima-se, repara que está alagada em suor. — Ladrão atacar tu? Estar doente?

Tremendo, a outra responde:

— Chama o 112. O bebé vai nascer.

Que será o 112? Estará ela a delirar? Quase desfalece.

Então Irina precipita-se pela escada abaixo. A rua encontra-se deserta. Não conhece ninguém nas redondezas. Corre até ao café onde o pai está a pintar paredes. — Pai, pai! — grita ela.

Anton desce do escadote, pousa o rolo, inquieto ao ver a filha naquela aflição.

— Que foi? Aconteceu alguma desgraça?

Mal sabe o que se passa, marca um número no telemóvel, dá a morada, pede urgência. Segue-a em passo apressado. Sobre eles desaba uma chuva gelada. Ficam com os cabelos a escorrer, encharcam os sapatos nas poças que, num instante, se formam.

Chegados ao prédio, o ucraniano galga os degraus dois a dois, entra sozinho no quarto da vizinha. A filha fica à espera.

— Irina, ferve uma panela de água. Traz-me um frasco de álcool, uma tesoura, toalhas.

A miúda obedece, confusa.

— Traz-me roupa lavada, para me mudar!

O pintor despe o fato-macaco, sujo de tinta e de pó, na casa de banho, enfia uma camisa branca, umas calças desbotadas. Esfrega as mãos e a tesoura com álcool.

— Irina, a água já ferve?

De novo no quarto, fala pausadamente com a rapariga, em voz alta. Ouve-se tudo cá fora.

— Força! Coragem! Está quase…

De súbito ouve-se o choro de um bebé.

— Entra, Irina — diz, pouco depois, o pai. — Vem ajudar. Já és crescida.

Entrega-lhe o recém-nascido.

A rapariga, na cama desalinhada, sorri.

— Embrulha-o num xailinho. Está na gaveta do meio.

Irina aconchega aquele corpo tão pequenino e frágil. Embala-o devagarinho, como fazia com as bonecas. Uma minúscula mãozinha aperta então o seu polegar.

O alarme de uma ambulância apita. Pára à entrada do edifício. Duas enfermeiras precipitam-se pela porta dentro.

— Então, viram-se atrapalhados? Um parto faz sempre confusão, principalmente aos homens.

— Sou médico — confessa o ucraniano. — Mas, em Portugal, ando nas obras…

As enfermeiras cruzam um olhar subitamente triste. Examinam a criança.

— O bebé nasceu no dia de Natal. É o nosso Menino Jesus.

A mãe olha para o homem e pergunta:

— Como é que o doutor se chama?

— Anton.

— António? Quer ser o padrinho? Vou pôr-lhe o seu nome.

As enfermeiras levam a rapariga e o bebé para a ambulância.

— Vão dar um passeio até à maternidade. Estão ambos ótimos.

— Manhã nós visitar! — exclama a garota.

Já passa da meia-noite. Pai e filha descem até ao patamar do primeiro andar. Na escada nunca há luz. Felizmente a gente do 112 usa lanternas… Mas, logo que o pessoal da ambulância se afasta, a escuridão instala-se. Às apalpadelas, o pai mete a chave na fechadura. Tropeça num embrulho.

— Que será? — espanta-se ele. — Esta é uma noite de surpresas.

Sobre o tapete de cairo está um embrulho enfeitado com um laçarote cor-de-rosa. Traz um bilhete preso com fita-cola.

Para uma fada loura. com amizade

A menina abre-o. É um conjunto de canetas de ponta de feltro.

— O Pai Natal português não se esqueceu de ti — ri-se o médico.

— O Afonso é a única pessoa que me trata por fada — replica a Irina, um bocadinho corada.

Corre para o dicionário, passando as páginas até à número 159 e exclama, radiante:

OЗНАКА — fada

Depois, pega numa folha de papel e desenha, a amarelo, uma estrela a brilhar, a brilhar, a brilhar.

Luísa Ducla Soares,Há sempre uma estrela no Natal, Porto, Civilização Editora, 2006

 

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